Existe uma grande mudança em curso — parte I

Simone Solidade
5 min readDec 30, 2022

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Recadinhos paroquiais: Este é um daqueles textos que escrevo para organizar algum tipo de aprendizado valioso que tive na vida. Destes que derrubam estruturas e que quero externalizar para que a Simone do futuro acesse em caso de emergência.

Mas, é claro que ficaria muito feliz em saber que estes aprendizados — que, com certeza, não aconteceram com essa linearidade toda — alcançasse e provocasse boas reflexões em quem esteja passando por algo próximo.

Nesta primeira parte, conto a saga sobre Saúde que se apresentou no final de 2021 (contexto e desafio/convite), e que foi o meu tema pessoal de todo 2022.

Uma história para resumir 2022

Um pouco de contexto

Foi em 2016 que, através do trabalho, descobri em qual área gostaria de atuar por meio do design: Saúde. Coincidentemente, foi através deste mesmo trabalho que perdi o restante de saúde conquistada até então. Após quase dois anos e meio nesta consultoria, e um desfecho bastante desafiador, pude experimentar um período bem sombrio de depressão, que me afastou do planeta por no mínimo dez meses. Mas, num grande combo terapia-medicamentos-cabalices depois, estou bem e bem distante do que, carinhosamente chamo, “meu modo Samarinha”.

Meu 2016 em uma imagem. Obrigada “Paulo-meme-produções”.

Mas, algo que “nunca voltou ao normal” (se é que posso dizer que algum dia foi “normal”), foi a minha disponibilidade para tarefas básicas do cotidiano, como cozinhar, arrumar a casa e, principalmente, agendar e cumprir aqueles checkups médicos que todo ser humano precisa.

Me tornei um daqueles celulares que você precisa deixar na tomada 10h pra recarregar 100%, usar 1h, e já ter a bateria nos 5%. E o que você faz com os 5% de bateria? Deixa pra usar somente para o essencial. No meu caso, o essencial era trabalhar — algo que, após o período das trevas, simbolizava o ápice da ressureição.

E assim vivi de 2017 a 2021: como uma boa placa na cabine do motorista de ônibus, dizendo constantemente para mim mesma para “falar [fazer] somente o necessário”. Não a toa que, a grande “piada” destes anos era dizer que “Saúde, SAÚDE-MESMO, é só o meu tema de trabalho”.

Parece que era hora da vida mandar um novo recado. E no final das contas, este texto é sobre como este novo zap do Universo reverberou por aqui.

O convite

Em 2021 dei um passo importante para aquilo que chamava de “outra grande realização”: iniciar uma pós-graduação. Após 11 anos de término da graduação, finalmente entendi em qual área gostaria de me aprofundar e, o melhor, tinha os recursos financeiros para investir no curso com mais tranquilidade. Seriam as condições perfeitas? Quase.

Apostar em um curso online, após quase 2 anos de pandemia e isolamento, de fato, parecia algo arriscado. Mas, me apeguei à ideia de que “estudar algo que queria tanto” , que era o caso da Antropologia, me traria a “energia/fôlego/motivação” necessária para vencer o sentimento de exaustão. É bem fácil ver onde isto vai dar, certo?

Mesmo diminuindo bastante as minhas expectativas sobre meu rendimento no curso — tentando deixar a Simone nerd das boas notas que um dia existiu, definitivamente pra trás — a cada leitura atrasada, a cada “não-participação”, a cada projeto que não era entregue, ficava muito claro que não se tratava de trabalhar a “minha motivação”, ao contrário, esta escolha estava me afundando num lugar perigosamente já conhecido: o da culpa e o da frustração.

Trancar o curso pareceu o mais lógico a se fazer naquele momento. Foi o que fiz e senti que foi um término difícil de engolir — era algo que me fazia chorar só de pensar. E por quê doía tanto? Porque estava trazendo a tona aquilo que também se mostraria um grande medo: o de “não me ver capaz de conseguir fazer mais nada além de trabalhar”.

Pera: “medo de não conseguir fazer mais nada além de trabalhar”. Curioso: Será que algum dia eu realmente experimentei um lugar diferente deste? Pois é. Se o “não conseguir mais trabalhar” foi o sinal que faltava para eu desconfiar da depressão que se instalava em 2016, “não conseguir estudar” foi o sinal que, no final de 2021, veio para eu desconfiar que “conseguir trabalhar” já não deveria mais ser o meu único “sinal de saúde”.

Do mesmo modo, se “voltar a trabalhar” foi a minha maior conquista pós-trevas — afinal, me trouxe de volta para o mundo que conhecia — ser capaz de concretizar “um novo projeto para além do trabalho” era o novo passo que deveria ser dado, eis aí um mundo totalmente desconhecido.

Porém, este novo convite trazia uma premissa muito clara: o que quer que venha pela frente, não será pelo caminho da exaustão, não será pelo o que te tira a saúde.

Precisaria chegar neste ponto pra entender que saúde é algo importante? Claro que não. Até porque, Saúde é uma daquelas coisas que você já tem como premissa em qualquer oração, felicitação, agradecimento. A Saúde está lá, como o mais importantes dos itens. O ponto é que, entender que algo é importante é diferente de viver este algo na prática. É como se existisse um certo nível de entendimento, muito específico, em que o ponto da virada acontece. Somente nessa camada, o entendimento se transforma em algo vivo, prático.

Entender por quais caminhos este nível de entendimento (ainda que seja pelo puxão de orelha) acontece nessa minha vidinha — no caso, por aquilo que sempre foi o centro de tudo, que é o trabalho/estudo — foi essencial pra pescar o tamanho do convite.

O ponto da virada

Se conseguir “atingir um objetivo” — como o de ter um saúde melhor — já parecia suficientemente desafiador, “atingir um objetivo sem passar pelo caminho da exaustão” soava como dobrar a aposta. É tanta crença em jogo, daquelas estruturantes mesmo, daquelas que, sem elas, você mal consegue se enxergar, que a Simone planejadora que logo vê um passo-a-passo sobre como materializar algo, já estava escondida debaixo da cama.

Mas, se tem algo que aprendi com o design é que, primeiro, a gente começa entendendo as palavras. Afinal, de que Saúde estamos falando aqui? Saúde, que até então era “só minha área de trabalho”, finalmente passou a ter um significado: Saúde é ter vitalidade para viver e fazer o que é importante pra mim.

E agora? Agora é hora de mergulhar: como trazer este conceito de saúde a tona?

Há mais significados pra compreender neste significado que dei para Saúde, mas vou explicar isto aos poucos. Ou melhor, o COMO estou lidando com tudo isto (estratégias, métodos e ferramentas) é o assunto da Parte II.

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