Existe uma grande mudança em curso — Parte II

Simone Solidade
6 min readJan 31, 2023

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Recadinhos paroquiais: Há muitas formas de contar uma mesma história. Tentarei contar da forma mais simples possível (e aqui, uma certa linearidade ajuda) — porém, como comentei na parte I deste texto, não se iluda: tudo o que vou contar é fruto de um delicioso processo caótico de teoria-prática-erro1-erro2-erro3…

Caso você tenha chegado por aqui agora, recomendo começar pela Parte I, onde trago o contexto e como um novo convite para cuidar da minha saúde surgiu nesta existência.

Certo. Com um primeiro entendimento do meu significado pessoal de Saúde como “Saúde é ter vitalidade para viver e fazer o que é importante pra mim”, um próximo passo seria aprofundar, compreender melhor algumas coisinhas:

  • Por que "vitalidade"? Porque, para mim, estar saudável não significa, necessariamente, “não ter uma doença”, ou algo ligado estritamente ao corpo físico (como estar no peso considerado proporcional à minha altura). Se foi a partir do sentir-se constantemente exausta para realizar qualquer atividade “não obrigatória” (como trabalhar, por exemplo) sabendo que ainda estou na fase 1 dos vídeo-games (solteira, morando sozinha, com 2 pets — afinal, imagine só quem ainda compartilha o lar e cuida de 3 filhos, por exemplo — eu já teria fugido ou sido expulsa de casa), retomar a energia vital era o grande trunfo.
  • E o que fazer com a energia vital retomada? Qualquer coisa? Claro que não. Preciso sentir que isto está sendo direcionado pra além das necessidades mínimas da existência. Sentir e viver os desejos, isso também é importante, poxa. E quais desejos? Horas e horas de terapia por aqui — mas vamos pular esta parte rs.

Uma outra reflexão dizia respeito aos resultados deste mergulho. Como eu saberia que cheguei em um “bom lugar”? Como perceberia os avanços?

Muitas reflexões me levaram a pensar que um bom avanço seria diminuir (quem sabe, até eliminar) o sentimento de culpa constante — seja por não me sentir capaz de cuidar da casa, seja por não ter energia para brincar com os pets ou me dar lazer. A gente só entende o peso o "sentir culpa" traz, quando já não sente mais culpa. Enquanto a culpa está ali, é quase como aquele barulhinho de geladeira que você mal ouve mais, só nota que existia quando finalmente desliga a geladeira, sabe? E caramba, culpa é um troço que drena, não?! Então, eis aí a "métrica de sucesso" sobre a minha pergunta norteadora que passou a ser: Do que eu seria capaz se me sentisse menos culpada?

(A esta altura do campeonato, também estava ficando claro a dificuldade de pôr os objetivos e resultados em termos mais tangíveis. Mas bem, me dei esta licença poética e, contrariando as boas práticas de uma pessoa que lida com projetos de pesquisa, segui desta forma.)

Começando a esboçar uma estratégia: preparando os recursos

O ponto é que, pra que qualquer coisa saísse do plano das idealizações, eu precisava abrir espaço na vida e aprender a integrar diversas áreas ao mesmo tempo — como qualquer adulto funcional, veja só. E por isto, concentrei as primeiras energias em me organizar melhor.

Organizar é uma palavra mágica (e bem, achar isto mágico é quase um pleonasmo astrológico por aqui). E o que Simone faz quando decide entender mais sobre um assunto? Fica obcecada, claro:

  • Quem são os especialistas em organização?
  • Quais os melhores livros sobre organização?
  • zás

Soa assustador? Sim — mas precisava seguir a intuição e deixar fluir esta pré-energia em cultivar algo sobre um assunto que não era “trabalho”. Foi então que comecei a montar o meu exército próprio da salvação.

Começando pelos livros:

Concentrei minhas leituras nesta temática de organização, criação de hábitos e produtividade, mas tudo de uma maneira feliz, sem aquele tom de Linkedin do tipo “trabalhe enquanto eles dormem”. Apesar da maioria ter aquela cara de "típico livro americano", dá pra tirar muita coisa boa — só pular algumas historinhas, claro.

Aliás, se consegui lidar com estes temas, é porque conheci estes dois seres humaninhos, que abordam as complexidades da vida da maneira mais gentil possível:

Estes dois personagens foram as novidades do ano e se juntaram a outros seres, que mal sabem eles, me sustentam há um bom tempo:

  • Emanuel Aragão, trazendo a visão da filosofia + psicanálise, me fazendo entender a vida a partir das neuro-coisas.
  • Maria Gabriela Saldanha, trazendo a mais pura sabedoria dos oráculos, me fazendo entender a vida a partir de uma maneira muito sensível de lidar com as simbologias dos mitos.

Perceba que, até aqui, estou falando de recursos que me ajudam a abrir espaço, tanto na vida prática, quanto na vida subjetiva. Logo mais comento o que saiu deste espaço todo.

Registrando o percurso

À medida que fui conhecendo/estudando conteúdos sobre organização, senti falta de algum tipo de coisa que me fizesse sentir que estava evoluindo. Recorri à escrita nos meus bons e velhos caderninhos, um hábito que já estava em construção, mas que ganhou novos poderes em 2022: o de ser um porto-seguro, uma espécie de alternativa pra manutenção do foco… Comecei a testar o método do Bullet Journal, mas não a versão pomposa e designística que se vê no Pinterest e, sim, a versão mais simples e mínima pra exercitar um determinado tipo de registro.

Esse lençol roxo ainda me deixa impactada.

Outro local que usei para ir criando um sistema de organização é o Notion.

Isso aqui é uma construção infinita — muita coisa já mudou desde o print e ainda vai continuar mudando.

Afinal, e o que saiu disso tudo?

O processo está em andamento, mas já é possível perceber vários pequenos e grandes aprendizados, que se misturam em diferentes camadas de profundidade. Aliás, quando comecei a escrever esta segunda parte do texto, pensei que seria a última. Até listar os tais aprendizados e concluir que, só esta parte, valeria uma parte 3. Então sim, vem uma parte 3.

Mas é claro, que tem umas coisas mais simples que já vale a pena trazer pra cá. Quando pensava em listar tudo que tinha na cabeça, fiquei com medo de, ao ver o tamanho da lista, isto pudesse ter um efeito quase paralisante. Mas, ao contrário, fazer o "download" de tudo, me ajudou a perceber que:

  • Com tantas coisas flutuando na mente, não é a toa a sensação constante de um cansaço mental. Ou seja, não é um "defeito pessoal", é só a constatação da realidade de que "sim, a vida é complexa mesmo e você tem todo o direito de estar exausta.
  • Ao mesmo tempo, me ajudou a perceber que "sim, eu faço coisa pra caramba." Pra além dos blocos mais consolidados de tempo, do tipo "trabalho", "casa", tem uma série de pequenas decisões e encaminhamentos do dia-a-dia, que a gente mal percebe que dá conta. Ou seja, não é justo que eu apenas alimente a visão sobre mim de que "sou preguiçosa". Não sou essa farsa toda que sinto.

No geral, estas duas coisinhas me trouxeram a sensação de finalmente ter "construído espaço" (se estou fazendo um bom uso deste espaço, aí é outra coisa…rs) MASSS, eis aí, a primeira colheita de um processo que começou pela necessidade de cultivar saúde: a organização possível trouxe o chão pra que outras sementes fossem finalmente lançadas. E esse é só o começo.

Agora, pra terminar MESMO, precisa entrar no bloco filosófico da parte 3 ;)

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