Nutrição! Tá faltando nutrição!

Simone Solidade
5 min readAug 1, 2017

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Pronto. E lá se vai um possível encerramento pra este texto que está começando a nascer.

O fato é que me doei muito. Mas não recebi na mesma proporção. Ou em qualquer outra proporção. E é interessante perceber o quão difícil é dizer isto pra mim mesma sem aquela voz de auto-julgamento dizendo “ ah, mas é você que não está sabendo perceber o retorno”. (Ok, pode ser também. Mas poxa, vamos confiar em nossa percepção ao menos uma vez.)

Talvez a minha necessidade de receber fosse tanta, que isto aumentou meu desejo por doar. Como se esta doação me desse o ingresso para o direito de receber. E daí começaram os excessos…Quando criança, o excesso de organização. Depois, o excesso de estudo. E logo, o excesso de trabalho. Um excesso de preciosismos, uma intensa necessidade de servir, como se disso dependesse toda a felicidade que eu poderia colher um dia.

Um dia…um dia que nunca chega. Ou que chegou, ainda em forma de “charada”, e que despertou a maior temporada de discussões internas de todos os tempos simonísticos. Ao menos 4 anos de um rally intenso, que a cada nova pista, revela uma estrada ainda bem longa a percorrer.

A nova pista veio hoje. E trouxe a palavra NUTRIÇÃO.
Algo nada surpreendente pra quem tem se ocupado com a tarefa de preencher cada vazio da vida com um chocolate desde 1987. Mas sim, a nutrição aqui é outra.

Há dois meses, ao participar de um grupo de práticas de Comunicação Não-Violenta, senti o efeito quase instantâneo do que significa estar num ambiente acolhedor, em meio à pessoas preparadas disponíveis para conversas profundas e significativas. Me lembro de encerrar o encontro compartilhando meu sentimento: o de que, finalmente, me sentia nutrida.

Como pude esquecer desta sensação em tão pouco tempo? Como é triste esquecer desta sensação em tão pouco tempo.

Como qualquer tipo de NUTRIÇÃO, precisa ser algo diário, constante. Não seria uma única refeição pra garantir a energia para um mês. Nem um único banho pra garantir a higiene de um ano. Não seria um dia de iluminação para curar anos de auto-julgamento. Caramba, é o bendito do constante. Estava ali, o tempo todo, no grande manual da existência, capítulo 1: “Saberás o que é vital para ti e o utilizarás com constância” (até porque, acredito que são estes “manuais” que garantem o uso de verbos na segunda pessoa do plural).

E assim como um dia constatei que: não sabemos respirar, não sabemos nos alimentar bem, não sabemos nos comunicar, adicionei a esta lista um novo tópico.

Tá, quase adicionei.
Porque ainda não é uma afirmação, é só mais daquelas dúvidas-matadoras-disparadoras-de-rallys-internos: e será que a gente sabe mesmo o que nos nutre?

Por um momento, quase achei que já tinha fechado esta questão. Tanto que até escrevi este texto aqui: “A pergunta de 1 milhão de reais”. (Sim, porque costumo escrever estes textos quase que numa tentativa desesperada de alertar a Simone do Futuro pra não cair nas mesmas ciladas. Pois é, vê-se que não deu certo).

Mas voltando: o que me nutre?

E fez-se o vácuo.

Tenho certeza de que o mundo está rodeado de pessoas que não responderiam esta pergunta na mesma velocidade com que diriam a escalação da copa de 70. (E eu, na ânsia de adicionar um drama a este parágrafo, me arrisco a seguir neste texto sem conferir se teve mesmo uma copa em 1970).

É fácil cair num vazio. Menos fácil percebê-lo. Mais fácil fingir que não existe. Mais dolorido ver que não é o chocolate que o preenche. Mais amedrontador resolver encará-lo. E tão fácil cair em respostas prontas. Heróico mesmo é sustentar este vazio. Porque, não sei você que me lê (oi!), mas eu aqui tenho uma mania ótima de entrar no modo “resolução de problemas”. Basicamente, consiste numa técnica de resolver alguma coisa a todo custo. Com qualquer coisa mesmo. Põe lá um durex e tá consertado.

Então, já poderia ficar feliz com o fato de ter chegado numa pergunta, ao invés de forçar uma resposta? (To aqui olhando pro céu esperando um sinal). Talvez. Mas perguntar a mim mesma o que me nutre e não ter uma resposta clara…é, não esperava não. E confesso que tenho uma certa urgência por isto.

Contexto: Ganhei o direito de permanecer em casa por quase 2 semanas “apenas” pelo fato de estar quase surtando. Sim, trabalho num local onde há compreensão (obrigada, Vida). E nestes dias tenho tido a oportunidade de carregar as energias. De me nutrir. E como não saber o que me nutre numa hora destas?! (tô rindo aqui…rs).

E o texto tá grande e, pra antecipar: não tenho resposta. Algumas intuições, mas sem respostas.

Só outras reflexões em aberto:

Quantas vezes o meu desejo por ser útil ao outro, não era uma tentativa de comunicar a mim mesma, a falta que eu sentia de algo (ou alguém) que fosse útil pra mim?

Quantas vezes escolhi priorizar o trabalho, e o quanto lutei por um trabalho que me permitisse “cuidar do outro, ou mesmo do mundo”, numa tentativa de disfarçar, ainda que superficialmente, a minha total falta de habilidade de dar o mesmo cuidado a mim mesma?

Quantas vezes recusei momentos de prazer e aprendi a contentar em dar prazer ao outro, apenas por não saber receber?

E é então, que chego naquela de “ você não pode oferecer o que não dá a si mesmo”. (Sério Simone, é assim que você quer encerrar isto aqui?). Não era assim não. Mas preciso admitir: é mais uma daquelas verdades óbvias que a gente acha que entende. Entende é nada.

Eu não sei o me nutre. Não sei o que me dá energia. Só consigo perceber sua falta e desejar por um estado contrário.

E agora é que começa a aventura. Eu, que sempre quis ser uma empreendedora (o sonho da adolescência) — de repente entendo que não se trata de escolher um tema ou uma área de atuação.

O tempo todo, a vida deu sinais de que o empreendimento mesmo era de um novo estilo de vida. De um estilo de vida que me permita me nutrir, diariamente. E como disse não tenho a resposta, mas há sim algo de positivo nisto tudo: já entendi que não tem a ver com o tipo de trabalho que escolho. E pode ser que tenha a ver com a qualidade do tempo. Tem a ver com tempo. TEMPO, meus queridos.

E aí vejo que a luta agora já não é mais pelo direito de colher a felicidade “um dia”. O pau vai cumê em cima do direito de viver o Agora, com o mínimo de equilíbrio. Nesse mundo capitalista? Sim, não tenho outro mundo pra habitar.

Já vejo o Mundo me olhando e dizendo “Tu tá muito é da ousada!” (imaginei o mundo com um sotaque nordestino arretado). E eu respondendo:

“Pois então que comece a ousadia! E se prepare, que a resenha dessa vez vai ser longa!”

(sim, teremos cenas dos próximos capítulos)

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