Um capítulo chamado: aplicativos de relacionamento.

Simone Solidade
3 min readJul 27, 2017

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Essa parte da minha vida poderia se chamar “Stranger Things”.
Mas já tem um seriado bem melhor com este nome.

Eu, assim como o próprio mundo, passando por um turbilhão de emoções. E sobre o que será este texto: sobre aplicativos de relacionamento.

Porque, pera: é muito louco. Tudo é muito louco. Desde o que te faz buscar um aplicativo com este tema. A baixá-lo. A criar uma senha e um login. A preencher um perfil. A escolher as fotos. E a visualizar. E a curtir. E a enviar ou responder mensagens. E a escolher ser promovido ao whatsapp.

São fases de uma longa jornada de julgamentos ocultos (alguns perigosos, inclusive). E não digo só julgamentos sobre os outros. O que ferra é quando você se assiste naquela cena. É vergonhoso. Mas, vou me segurar e focar aqui, neste comecinho, sobre os outros. É sobre os outros MEMO!

Fotos. Ah, as fotos.

A foto de perfil, meio capa de CD. Com variáveis PB.
A foto com a natureza ao fundo. Preferencialmente Machu Pichu.
A foto na academia. Afinal, pra quê se paga academia, se não para usufruir daqueles espelhos, não é mesmo?
Ok, espelhos são legais. Mas nada supera o espelho do elevador.
Tem aquela foto dirigindo.
E a foto com gatinho/cachorrinho. Um pedido clássico pra despertar aquele “own, ele fofo”. Mas…você já reparou naquele bícepes? Pobres animaizinhos usados em vão.
Tem a foto tocando guitarra.
Tem a foto tomando litros e litros.
E, eventualmente, tem aquelas fotos. Aquelas. Específicas.

E aí você está ali, olhando freneticamente.
Tem o cara que parece legal.
Tem o cara bonito…mas, caramba, essa camisa polo, não.
Tem o cara com 4 fotos. Iguais.

E de repente você se vê quase com a mesma revolta de quando procura apartamento e pensa “ Sério que o cara não se deu o trabalho de tirar essa vassoura do meio da foto?!”.
Outro dia pensei mesmo que estes apps deveriam se inspirar no AirBnb e enviar um fotógrafo pra ajudar.

(Imagina o perigo).
Melhor não.
Deixa como está.

Textos. É assim:

Ninguém sabe se descrever. Mas todo mundo gosta de viajar. Fim. Acrescente a isso alguns “Fora Temer” (uau, eles realmente aparecem bastante — acho digno, até). E pronto.

E no final desse expediente todo, o que fica?

Fica eu achando que tenho que viajar mais. Cadê a foto do pôr-do-sol?
Fica eu achando que preciso de uma tatuagem.
Fica eu achando que todo mundo tem uma banda, menos eu.
Fica eu achando que se eu não tomar umas cervejas com frequência, não haverá vida.

E essa é a parte mais louca. O quanto, por uma fração de segundos, a gente se sente induzido a fazer parte deste universo. A ter aquele rótulo. Aquele, que a gente mesmo julga, sabe? Por um momento, você quase acredita que, se você se dedicar a preencher todas as perguntas (oh céus, são várias), e a colocar as melhores fotos, algum algoritmo vestido de cupido vai te ajudar. Mas, bem…passa. Caramba. Que bom que isso passa rápido.

(é mais ou menos por aqui que entra aquela cena do “se ver em cena”, sabe?)

Bate aquela vergonha alheia. A vergonha alheia de “si mesmo”.
“O quê raios eu tô fazendo nessa budega?”

Mas seria injusto dizer que não rende boas histórias.

Tem rendido. Diria até que, ultrapassando a fronteira dos julgamentos, tem até gente boa por lá. Mas aquele risco do sumiço dramático na neblina do Vale do Vácuo…é, acontece. E dói. Pelo menos do lado de cá. Porque pro coração não tem essa de online/offline. Ao menos pro meu.

E confesso: esta história aqui nasceu do último vácuo. Mas não é esse lado que quero lembrar. Quero fazer disso outra história pra contar.
Porque sim, no final sempre rende boas histórias.

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